ALOI, R.; AVANCINI, E. S. P; GLIKSBERG, P.; MOREIRA, J.
Neste trabalho falaremos sobre a planta Nicotiana tabacum, Nele estamos trazendo informações sobre sua
origem e utilização no passado, bem como sua estrutura física e os prejuízos
causados quando absorvida pelo organismo de certos animais. Citaremos suas
formas de intoxicação e manifestações clínicas mais comuns, também falaremos um
pouco sobre seu tratamento nos casos de intoxicação e seu prognóstico.
2 NICOTIANA
TABACUM
A Nicotiana tabacum,
à qual sua provável origem é a América
do Sul, mais precisamente o Noroeste da Argentina e a região dos Andes
(Melhoramento genético de fumo), ganhou esse nome de um médico francês, Jean
Nicot (1530-1600), que introduziu a planta com sucesso na França, Nicot estudou a fundo os efeitos da nicotina e a
recomendava como uma substância que “curava-tudo”, devido à erva ser usada
pelos índios para fins medicinais, e religiosos. Os termos tabacum e tabaco vêm do
nome de um tipo de junco vazado que era usado pelos nativos americanos para
inalar o fumo. Logo a Nicotiana Tabacum é
popularmente conhecida como fumo ou tabaco pertencente à família Solanaceae.
No início do século XVI, espanhóis passaram
a ursar a erva para mascar ou, então, aspirar sob a forma de rapé (depois de
secar suas folhas).
(Extração da Nicotina do tabaco pela Destilação por arraste de vapor d’água.).
Com o inicio da industrialização de
cigarros no Rio de Janeiro, em 1903 foi organizado o sistema produtivo brasileiro,
com a implantação do Sistema Integrado de Produção de Fumo na região Sul do
Brasil. Desde 1993 o Brasil é o maior exportador mundial de fumo, em volume.
(Genotoxocidade ocasionada pelas folhas de fumo) Nicotiana
tabacum é uma das culturas não alimentares mais amplamente
cultivadas no mundo inteiro e é cultivada em 120 países.
Caracteriza-se por ser uma espécie herbácea
anual, que pode atingir até 3 metros de altura, autógama, com raiz pouco profunda,
caule cilíndrico e folhas grandes de coloração verde. As folhas são ovadas-lanceoladas,
dispostas em torno do caule de forma helicoidal; quando maduras tornam-se amareladas ou
marrons. As flores possuem um cálice cilíndrico e esverdeado, o qual também pode
ser avermelhado na parte superior. As sementes são globulares e os frutos são de
formas distintas. (COMUNIDADES DE COLEOPTERA EM CULTIVOS DE TABACO (Nicotiana tabacum L.) EM SANTA CRUZ DO SUL, RS).
Floresce em setembro, janeiro e abril (SCHVARTSMAN, 1979).
2.1 – Partes Tóxicas
As propriedades tóxicas, além da presença da nicotina, depende da
maneira com que o fumo é absorvido no organismo: ingestão da planta, inalação
da fumaça, ingestão do fumo, etc.
A distribuição da nicotina é variável, e sua concentração depende de
fatores, tais como tipo de solo, tipo de cultura, condições climáticas, etc.
Geralmente a maior concentração está nas folhas, e no caule, em menores
quantidades na raiz e nas flores.
Somente na semente não há nicotina, que aparece logo após a germinação,
aumentando o teor a medida da maturação da planta. (SCHVARTSMAN, 1979)
A nicotina é uma
amina terciária consistindo em uma piridina e um anel pirrolidina. É um
alcaloide líquido natural. É uma base volátil, incolor que se torna marrom na
exposição ao ar tendo meia-vida de aproximadamente duas horas (CUNHA, 2007).
2.2 – Fotos
3 MECANISMO
DE AÇÃO
A nicotina é rapidamente absorvida através da mucosa bucal, gástrica,
conjuntival, vaginal, retal, mas principalmente através do trato
gastrointestinal, através da difusão passiva para a circulação enterohepática.
Ela tem uma alta taxa de metabolismo de primeira passagem no fígado (70% -
75%), sendo que 70% - 80% deste valor são transformados em um metabolito
chamado cotinina. A nicotina pode atravessar as barreiras que protegem o
sistema nervoso central, a placenta e pode ser distribuída no leite materno. A
excreção se dá principalmente pela urina (pH abaixa) e fezes (SCHEP, 2009).
A intoxicação pelas folhas pode ocorrer em
animais de companhia. No entanto a intoxicação desses animais pelo tabaco
ocorre principalmente, quando estes ingerem cigarros, charutos, etc (Livro
Toxicologia aplicada a Medicina Veterinária).
As ações periféricas se fazem nas células ganglionares
simpáticas e parassimpáticas (agindo como agonistas dos receptores colinérgicos
de acetilcolina nAChR),
inicialmente estimulando e depois deprimindo. Estes receptores são sódio
dependentes, e existem, principalmente, nos sistemas nervosos autônomo e
central e nas junções neuromusculares. Na célula nervosa ocorre um influxo de
sódio pelo canal na membrana que despolariza e aumenta a propagação do
potencial de ação. Sendo assim, o alcaloide é capaz de estimular tanto o
sistema nervoso quanto todo o eixo cerebroespinhal, e essa estimulação pode
desencadear convulsões violentas, seguida, na maioria das vezes, por fenômenos
paralíticos, e por último, uma ação depressora das células nervosas (SCHEP,
2009).
Doses
pequenas da Nicotiana tabacum L.
tendem a estimular os centros respiratórios, já quando absorvida em altas doses
comumentemente promove parada respiratória e como consequência, óbito.
Efeitos cardiovasculares serão determinados conforme a
maneira de absorção, sendo a trombose
um dos problemas mais comuns devido a agregação plaquetária.
Em cães foram feitos estudos em que altas doses de nicotina foram
administradas por via intravenosa, e observou-se indução de agregação
plaquetária, sendo o tromboxano A2 o principal mediador sintetizado pelas
plaquetas. A Nicotiana tabacum ao se
ligar a receptores nicotínicos da acetilcolina (nAChR) presentes em células
endoteliais, estimula a síntese de moléculas angiogênicas envolvidas na
proliferação endotelial, contribuindo para a aterogênese e disfunções
vasculares.
A nicotina também afeta a função cardiovascular através da estimulação
via sistema nervoso autônomo simpático, promovendo a liberação de catecolaminas
pela medula adrenal. (CUNHA, 2007)
A planta pode provocar também malefícios ao sistema
gastrointestinal, aonde são observados, na maioria dos casos, náusea, vômito,
diarreia, sialorreia aumento da secreção gástrica. Quando falamos de
musculatura intestinal, sabemos que essa intoxicação também é vista de forma
bifásica, sendo a primeira de uma hiperestimulação e consequente diarreia,
seguida de uma depressão do sistema e contratura.
(SPINOSA, 2008).
4 SINAIS
CLÍNICOS
A intoxicação pode se dar de forma aguda ou crônica,
com intensidades variáveis. A sintomatologia, em casos de intoxicação aguda,
começa com efeitos gastrointestinais, é observada pela presença de náuseas,
sialorreia, vômitos, dor abdominal e diarreia.
Na sequência desenvolvem-se os sintomas que condizem
com a estimulação simpática, como taquicardia, aumento do débito cardíaco,
hipertensão, tremores, andar cambaleante, fraqueza, prostração,
convulsões, fibrilações musculares, coma, paralisia, distúrbios respiratórios,
vasoconstricção periférica e vasodilatação central.
Podem desenvolver-se rapidamente (cerca de 15 minutos
após a ingestão); e a morte se da por parada respiratória, decorrente do
bloqueio muscular causado pela nicotina, pode ocorrer após dois minutos após o
inicio dos sinais ou demorar dias. (SPINOSA,
2008).
Fonte: artigo Nicotinic plant poisoning
5
DIAGNÓSTICO
O
diagnóstico de intoxicação pela Nicotiana
tabacum é feito pelas citações das manifestações clínicas, testes de urina para
verificar a presença dos alcaloides e identificação da planta por um botânico,
pois não existem testes para ensaio das toxinas liberadas (SCHEP, 2009).
6 TRATAMENTO
O tratamento em casos de intoxicação aguda deve ser
emergencial, o animal deve ser internado em uma unidade de terapia intensiva,
aonde será feito o suporte e acompanhamento dos distúrbios respiratórios
causados pela planta. O suporte deve incluir a manutenção da permeabilidade das
vias aéreas, seguido de oxigenioterapia, sendo ela administrada através de
aparelhos de respiração assistida ou controlada.
O animal pode ter parada cardíaca, e, caso isso
aconteça, deve ser feito imediatamente massagem cardíaca externa, e aplicação
intracardíaca de epinefrina e atropina por via intravenosa, visando à prevenção
dos efeitos inibitórios da nicotina sobre o sistema cardiovascular.
Em casos de intoxicação por Nicotiana tabacum L, costuma haver queda de pressão arterial, que
deve ser tratada soros salinos intravenosos, transfusões de sangue ou plasma e
administração de aminas vasopressoras.
É fundamental que também haja monitoração da temperatura corpórea, evitando que o animal tenha hipotermia.
É fundamental que também haja monitoração da temperatura corpórea, evitando que o animal tenha hipotermia.
A medicação de eleição para interceptar os efeitos do
sistema nervoso, como convulsões, hiperexcitabilidade e agitação, são os
benzodiazepínicos, que tem ação rápida. É importante lembrar que, em casos de
ingestão há, no máximo, 2 horas, deve ser feito o esvaziamento e lavagem
gástrica, que pode ser feito com água ou solução de permanganato de potássio
1:10.000. Também é indicado a administração oral de carvão ativado.
Quando a via de intoxicação for tópica, indica-se
banhar com água e sabão neutro, para que haja remoção de toda e qualquer
substância. E assim remover a causa primária da intoxicação, que, neste caso,
seria o ''tabaco'' em contato com a pele (SPINOSA,
2008).
7 CONCLUSÃO
Com este trabalho vimos que a maior parte dos casos de intoxicação pela Nicotiana tabacum nos animais domésticos
se dão pela ingestão de cigarros e charutos, que contém nesta planta como um de
seus princípios ativos. As formas de intoxicação irão depender da via de
absorção e as manifestações clínicas podem, com isso, mudar ou se agravar,
sendo as mais comuns relacionadas aos tratos digestório e respiratório, além de
influenciarem também no sistema nervoso, estimulando e deprimindo na sequência.
O tratamento, em casos de intoxicação pela planta se dá pelo suporte e inibição
dos sinais clínicos, não existindo fármaco antagônico específico.
LISTA DE FOTOS
FIGURA 1. Disponível em <
http://www.canal-medicina.com/medicina_natural/035_nicotiana_tabacum_plantas_medicinales_01.htm>.
Acessado em: 08 mar. 2015.
FIGURA 2. Disponível
em < http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6b/Nicotiana_tabacum_004.JPG>.
Acessado em: 08 mar. 2015.
FIGURA 3. Disponível em < http://www.itacor.com.br/site/entenda-como-cada-forma-de-consumo-do-tabaco-e-prejudicial-a-saude/>.
Acessado em: 08 mar. 2015.
FIGURA 4. Disponível em < http://herbarivirtual.uib.es/cas-uv/especie/4169.html>. Acessado em: 08 mar. 2015.
FIGURA 5. Disponível em < http://www.preciolandia.com/br/1000-sementes-de-tabaco-nicotiana-tabacu-8hhyu8-a.html>. Acessado em: 08 mar. 2015.
FIGURA 6. Disponível em < http://cgi-host.uni-marburg.de/~omspezbo/nutzpflanzen/bild.cgi?bild=nicotiana_tabacum_feld3.jpg&name=Nicotiana+tabacum+L.&nr=7&gesamt=7&unterschrift=>. Acessado em: 08 mar. 2015.
REFERÊNCIAS
SCHEP L. J; SLAUGHTER R. J. and BEASLEY D. M. G. Nicotinic plant poisoning. Dunedin, New
Zealand. Received 1 August 2009;
accepted 12 August 2009. p 771-780.
SCHVARTSMAN, Samuel. Plantas venenosas e animais peçonhentos. 2. ed São Paulo : Sarvier, 1992. 176 p. Bibliografia comentada: p.
106-108.
MENGES, R. W. et al. A Tobacco Related Epidemic of Congenital Limb Deformities in Swine. Reccived
September 19, 1969
SALDANDA, J. B. et al. Histologic evaluation of the effect of
nicotine administration on bone regeneration. A study in dogs. Braz Oral
Res 2004; 18(4): p. 345-9
FURTADO, F. M. V et al. INTOXICAÇÕES CAUSADAS PELA INGESTÃO DE
ESPÉCIES VEGETAIS EM RUMINANTES. 2012. p. 47-56. Ciência
Animal 22(3)
CUNHA, G. H. et
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Revisão, Outubro-Dezembro 2007, v. 1.
SCHVARTSMAN,
Samuel. Plantas venenosas. 1. ed. São
Paulo : Sarvier, 1979. 288 p. Bibliografia comentada : p. 143-146.
SPINOSA,
H. S.; GÓRNIAK, S. L.; NETO, J. P. Toxicologia
Aplicada à Medicina Veterinária. São Paulo : Manole, 2008. 960 p.